31.1.11

a realidade dos meus dias



isto no fundo é o que levo por tabela. a casa dos outros. a educação dos outros. ou a falta dela.

o que supostamente deveria ter piada não tem. não hoje.

25.1.11

...

hábitos

os blogs surgiram em portugal, se a memória (pouco descritiva) não me falha, há oito anos, mais coisa menos coisa. algum tempo depois, houve uma explosão de blogs: toda a gente tinha um blog. toda a gente ía ao blog de toda a gente. fizeram-se jantares e amizades para toda a vida. depois veio o facebook. a febre dos blogs acabou. de todos os blogs que eu visitava regularmente, poucos são aqueles que ainda contam alguma coisa. como é que de repente, alguém que tem tanto a dizer e a expôr, tem tão pouco...?

dos amigos reais (ou supostamente reais) que tenho, quase nenhum sabe deste blog. ou melhor: dos amigos que tenho da era pré-blog apenas uma sabe que mantenho este blog. nem essa cá põe os pés. da era pós-blog apenas quatro. não me interessa que mais ninguém saiba, assim está muito bem.

na realidade, quase ninguém visita este blog e não tenho vontade nenhuma de fazer "novos amigos". os velhos bastam-me, sinceramente, de ambas as eras. tenho alguma saudade sim, da urgência com que abria os blogs das outras pessoas, ávida de novas informações, novos estados de espírito, quase sempre deprimidos ou deprimentes. o facebook veio resgatar a felicidade fingida impossível de se fingir num blog, a vida perfeita de todos os dias que leio nos faces das outras pessoas. as brincadeiras e parvoíces necessárias à sobrevivência em portugal. as caretas e os jantares, os momentos felizes e as recordações. os pensamentos roubados de grandes escritores que sabemos nunca conseguir superar em toda a sua verdade e esplendor. as músicas que nos unem ou fazem pensar "isto é mesmo música de gaja".

se calhar agora a vida é mais feliz, mas nem por isso mais verdadeira. talvez isso me chateie, talvez isso me deprima. e talvez, mas só talvez, seja isso que me faça vir hoje ao blog e dizer tudo aquilo que também eu não quero dizer no meu face...

22.1.11

memória mais do que descritiva



lembras-te da nossa primeira morada? do nosso primeiro lugar? da nossa "primeira vez"?

não posso dizer, como noutras histórias de amor, que éramos uns putos e não sabíamos nada da vida... já sabíamos alguma coisa, é certo. posso dizer que fomos contra a maré. isso posso dizer. penso nisso quase todos os dias. num tempo em que as relações duram tão pouco e há tão pouca vontade em querer que durem, num tempo em que ninguém já não tem paciência para nada, para aturar as manhas do outro, para partilhar e viver um verdadeiro amor, para dizer que se ama alguém (hoje em dia parece que é pindérico dizer que se ama alguém - eu amo-te -e usar o verbo amar em qualquer um dos tempos ou pessoas), nós fizémos isso mesmo. usámos e abusámos do verbo amar. e juntámo-nos. sem pensar muito. pensaste muito? eu não. e quase entrei em pânico no dia em que chegaste. e durou até agora. dura até agora em que entras sala adentro e perguntas se quero alguma coisa. e peço-te um chá. e uma das gatas se aninha em mim. e vemos as desgraças que vão país fora. amanhã é dia de eleições. presidenciais. vamos votar no mesmo gajo e tudo. isto é que é amor caraças!, mesmo sabendo que o nosso eleito não vai ganhar. mas não faz mal. a vida e a crise continuam. nós também vamos continuar. a melhor certeza de todas que tive em toda a minha vida. amar-te. sei que hoje não é dia sete, mas não faz mal.

15.1.11

gato do dia

prometido




iremos se pudermos. verão. agosto? fala lá com a maria, era mesmo giro. até porque estou a precisar de alguma reciclagem, de estar com pessoas inteligentes, simples. diz-lhe que deixe a maquilhagem em casa. vamo-nos despir de todo o verniz e camuflagens e usar apenas protector solar. e álcool. e os vossos cigarros, já que deixei...

nem te cheguei a agradecer a fotografia e o postal de natal, um dos poucos dois que recebi este ano. sou assim meio aérea, mas não me esqueço de ti, uma das poucas pessoas pessoas que ficou, depois da euforia dos blogs. agora toda a gente é mais facebook, daqui a uns tempos também será outra coisa qualquer. as modas passam, como as músicas, e tudo isto nos une, com o passar do tempo.

apenas poucos ficam, disseram-me um dia.

vou falar ali com o "mê manel" e vamos, que ele nunca nega um pedido meu.

:: a tela é de leite rio::

14.1.11

boas notícias

vou passar a apanhar uma bebedeira por mês.
última sexta-feira de cada mês.
maravilha.

gato do dia


same shit different day

já não suporto este histerismo latente da sociedade portuguesa. desde a tv aos jornais. desde as ruas aos cafés. desde o local de trabalho até aos blogs. desde o facebook à má língua nas instituições públicas. nada se safa. os temas são invariavelmente os mesmos, chove todos os dias por aqui e a minha alma vai-se toda nestes pequenos nadas cheios de coisa nenhuma.

tenho saudades de qualquer coisa que já não existe.
não sei se é de mim, mas sinto-me assim mesmo.  


pode ser que passe.


                                

estas músicas não me saem da cabeça há já umas semanas...

black keys



crystal castles feat. robert smith




às vezes as músicas lembram-me apenas fases de vida, momentos em que me sinto estupidamente triste mas que só me apetece ouvir música feliz, ou o contrário. lembram-me também pessoas, pessoas que conheço há anos e que penso que poderiam gostar disto ou daquilo, pessoas que conheci há pouco tempo e que podem até gostar de ouvir o quim barreiros mas como estava a ouvir aquela música naquele momento...

como disse antes, são músicas que me fazem lembrar este ou aquele outono, este ou aquele verão... são boas músicas, sem grandes ou novas mensagens, mas que são extremamente "catchy".
já não oiço tanta música como ouvia antigamente, já nem sequer oiço muito as "minhas" músicas, porque acho que já não se fazem músicas "como antigamente" e porque ouvir as "minhas" torna-se cansativo. repetitivo e intenso ao mesmo tempo.

todos paramos de "procurar" música a dada altura da nossa vida. ou porque já não temos assim tanto tempo, ou porque estamos cansados, ou porque a música dos nossos dias torna-se um pouco a banda sonora de apenas certos momentos. comigo está a acontecer um pouco isso.

gosto particularmente destas duas. era só isso mesmo.

7.1.11

destilar ódios

dou por mim a pensar no meu mau feitio. sim, que isto de se ser bem disposta e de ter riso fácil tem um reverso da medalha. com a idade refinamos algumas coisas, azedamos noutras. old and bitter, pois claro.

ultimamente, todas as grandes coisas que me podem tirar do sério, penso que a essas consegui ganhar algum tipo de resistência, dado que o meu grau de aceitação das mesmas tende a ser maior, não me magoam tanto como noutros tempos. ou seja, refilo um bocado, vou a marte e regresso, e apago. apago mesmo. falei com alguém que me disse que era apenas uma forma de defesa. estou a ficar velha e a jogar à defesa. talvez não seja mau, pois deixei de sofrer tanto as grandes coisas que me atormentavam, que não conseguia entender. não conseguia entender, pois a minha revolta passava por não conseguir combater essas coisas. um exemplo: a estupidez atroz e a maldade das/nas pessoas. penso que agora aceito que afinal o mundo não é perfeito e que as pessoas são o que são. falíveis. seres humanos falíveis cheios de ódio nos corações. e isso é algo que aceito agora que me ultrapassa. e desisto, ao invés de me revoltar. acima de tudo, percebo que tudo foge do meu controlo, não posso controlar nada, e não posso mudar ninguém. cada um é dono do seu destino.

não perderei hipótese de meter dedos nas feridas dessas pessoas se tiver oportunidade para isso (sim, eu não sou perfeita), mas se não me incomodarem, eu prefiro "mudar de passeio, passar ao lado, não ligar, não atender".

vida vs morte e tudo o que está pelo meio

Não tenhas medo do passado. Se as pessoas te disserem que ele é irrevogável, não acredites nelas. O passado, o presente e o futuro não são mais do que um momento na perspectiva de Deus, a perspectiva na qual deveríamos tentar viver. O tempo e o espaço, a sucessão e a extensão, são meras condições acidentais do pensamento. A imaginação pode transcendê-las, e mais, numa esfera livre de existências ideais. Também as coisas são na sua essência aquilo em que decidimos torná-las. Uma coisa é segundo o modo como olhamos para ela.

Oscar Wilde, in 'De Profundis'
 




começamos a nossa vida no momento em que nascemos, e tudo à nossa volta muda pois assim os nossos olhos compreendem o mundo em que vivemos. as coisas valem o que valem. os problemas dos outros, os nossos próprios, o nosso egoísmo, o nosso altruísmo, tudo é produto da nossa forma de olhar, de estar, de tudo o que vivemos até então. qualquer um pode dizer que "entende". às vezes não entende nada, e sabemos. quem vive um qualquer drama, por pequeno que seja, sabe dentro de si se o outro "entende" ou não. na maioria das vezes, não entende. é algo de indefinível, mas que está lá. sentimos. pode aproximar ou pode afastar amigos, irmãos, amantes. pessoas. às vezes não tem nada a ver com a experiência que a pessoa teve e por isso, entende. tem mais a ver com sensibilidade. entendemos tudo de forma diferente. as coisas que me afectam, a acontecer ao próximo, podem não afectá-lo da mesma forma. a morte, por exemplo. quem nunca passou pela perda não entende de todo. é a pior dor que existe. a pior de todas. não se entende até que se tenha perdido alguém. um avô, uma mãe, um amigo. quem nunca passou por isto não entende e não tem o direito de dizer que entende. é algo que não se explica nem se percebe. é algo que se vive.

da mesma forma, uma doença que nos acontece.
viver a doença de alguém é estar do lado de fora, por mais que se sofra.
se nos dizem que estamos doentes é como um acidente. é como sentir que estamos a cair de um plano muito mais alto. sem rede, sem saber se vamos conseguir sobreviver a isso. é ter o mundo de cabeça para baixo, é não voltar a ver o mundo da mesma maneira. tudo mudou para mim nos últimos dois meses e não consigo ainda explicar como me sinto. não consigo perceber o que sinto. não consigo perceber se quero mudar a minha forma de ver as coisas, se manter a cabeça fria e continuar a dizer que sim, que vale a pena viver. é não conseguir perceber o dia de amanhã.

sinto que grande parte de mim morreu no dia em que deixei de poder falar com a minha mãe. não volto àquele lugar de conforto que tinha ao conversar com ela, pois era das poucas pessoas que me entendia, apesar de ser minha mãe, pois nunca somos quem somos de verdade ao pé dos nossos pais. ela era diferente, era uma pessoa diferente, e fui perdendo tudo o que éramos aos poucos. a psicóloga perguntou-me como é que consegui arranjar forças. "tanto quanto é possível sabê-lo quando se tem 12 anos de idade e percebemos que tudo é efémero aos 12 anos de idade" respondi. que pergunta tão estúpida, tão cliché, tão de série girly tipo anatomia de grey. onde é que fui arranjar forças... foda-se. "o que é suposto responder a isso?" perguntei-lhe de volta, para que ela pudesse perceber que não, não é pergunta que se faça,como aquelas perguntas estúpidas que se fazem às crianças, tratando-as como se fossem anormais. 

ninguém sabe onde vai arranjar força para enfrentar seja lá o que for. eu sei que parte da minha força era a força que a minha mãe tinha. uma troca. e agora não a tenho. 

e agora isto. um nódulo no rim. herança pesada, mãe, problemas nos rins. é irónico, fodido e não sei onde ir arranjar forças. perguntei à psicóloga. respondeu-me que é mais um "obstáculo", um "desafio". pois. não é a ela que aconteceu, que provavelmente vai ter de tirar um rim. é tão mais fácil quando são os outros. não consigo deixar de pensar que é tão mais fácil quando acontece aos outros e que todos não passamos de meros fantoches cheios de boas intenções e sentimentos relativamente aos problemas dos outros, mas não entendemos nada até que algo semelhante nos aconteça. às vezes basta ser sensível, mas nada como termos passado pelo mesmo.