31.10.10

songs of love and hate III

cada canção tem uma história. eu não oiço música "a martelo". já tive fases assim, completamente neuróticas, paranóicas - ainda posso vir a ter, mas desconfio que não - de ouvir uma canção em loop, mais precisamente um álbum em loop durante semanas, meses... existe sempre uma canção mais precisamente, que marca determinada altura da vida que se sofreu uma grande dor de corno.

resumir tudo a corno é pouco, principalmente quando nem é disso que se trata. a maior dor, digam o que disserem, nem sequer é a de corno.
a minha maior dor, de todas as partes do meu corpo foi esta, até hoje.

ainda hoje oiço isto e juro que não quero voltar àquele lugar.


30.10.10

bitchin'



nos tempos que correm só me apetece ser uma cabra. sério. a cena toda de ser boazinha nunca encaixou bem comigo, é certo, mas sempre fui demasiado frontal (estupidamente frontal) e ridiculamente transparente (para o bem e para o mal) e isso não encaixa bem no perfil de uma verdadeira cabra sarcástica. logo, nunca me considerei muito cabra. cruel talvez. irascível de certeza.

o conceito de "cabra" pareceu-me sempre algo demasiado longínquo, inantigível e sofisticado para alguém como eu. o "como eu" são outros 500, mas eu sei o que estou a dizer.

recentemente comecei a cultivar a cabra que há em mim. e acho que não me estou a dar nada mal.


há coisas que de tão ridículas que são, não merecem qualquer tipo de resposta ou reacção. 
às vezes ser uma cabra tem a ver com isso mesmo. também.
e talvez eu viva melhor e mais feliz assim.


post comprido comó caralho (ou seja, é dos bons, este!)



(jovem, 
se tens mais de 30 anos, este post é para ti!)

quando não temos dinheiro, emprego, namorado e vivemos aos 25 ainda em casa dos pais somos os maiores do mundo. somos "fixes" e temos muitos amigos. se formos gordos e/ou tivermos aparelho nos dentes, melhor. se ouvirmos música que mais ninguém ouve e/ou lermos coisas e falarmos de coisas que apenas 2 em 20 entendem, somos estranhamente excêntricos e tidos como os "maluquinhos" do grupo. se de vez em quando apanharmos umas grandessíssimas bebedeiras em virtude de tudo aquilo que referi anteriormente, acabamos também por suscitar algum sentimento de pena nos outros e, a par de porreiros, fixes, excêntricos, mal amados e desempregados, também ganhamos o epíteto de "coitadinhos".
the fuckin' emotional rollercoaster.

em portugal funciona assim: as pessoas sentem-se confortadas com os fracassos dos outros. vão para o estrangeiro trabalhar e vêm de lá a dizer que lá é que é bom e que isto aqui não vale nada, e eles é que estão muita bem na vida, ganham bem e tal. é o tuga mais triste: o emigrante. era assim há 30 anos, infelizmente ainda o é. eu confirmo.

mas dizia eu que tudo muda a dada altura, o tal volte face.
a dada altura, começa-se a trabalhar, a ganhar dinheiro e começa-se a ter menos tempo/resistência para as tais "cadelas" e noitadas. começa-se a ter menos tempo para música e livros. talvez se encontre "alguém". talvez a vida comece a rimar menos com fado do desgraçadinho e a fazer coro com independência, emancipação, etc. entramos no tal mundo "adulto". e sinceramente? é bom às vezes e às vezes é uma merda.

é bom porque sim, claro que é bom não depender de ninguém e é bom porque reconhecemos de imediato os amigos verdadeiros, os amigos reais. esses são como a amália rodrigues e dispensam apresentações. regozijam-se com os nossos sucessos, ficam felizes com as nossas vitórias, pequenas e grandes, todas.
agora: sabem aquelas pessoas que querem saber tudo o que tem a ver com o que se compra mas que se estão a cagar para "como" é que vocês estão? aquelas pessoas que vos ligam a contar todos os pormenores das suas vidas e que não se calam uma porra de um único minuto para perceber um único pormenor da vossa? aqueles amigos que vos mandam dois mails por ano, um no natal e outro para dizer algo que não tem nada a ver com nada? pois... são esses os GRANDES amigos que não interessam nem ao menino jesus, e são mais do que gostaria de admitir. pessoas que falam sempre do mesmo, de coisas que não têm interesse nenhum, falam mal de tudo, falam muito bem do último filme que vocês detestaram (isto ainda a propósito do post anterior), falam muito bem das medidas de austeridade (sim, eu conheço pessoas dessas), e se por acaso lhes mandam um mail com algo engraçado, nem à merda vos mandam. desperdício de tempo. e por isso, a entrada na tal vidinha, é por vezes, uma grande merda. sobretudo, porque não estávamos mesmo à espera que...

há aquelas pessoas que se queixam dos amigos que foram pais recentemente - que só falam de fraldas etc e que não saem de casa pois deixaram de ter "vida própria" em função do novo rebento; pessoas que têm o discurso do anti-casamento, anti-pantufas-ao-sábado-à-noite; pessoas que se recusam a crescer e chamam-lhe inconformismo, juventude, andam a foder meio mundo (e mal), vão para os festivais de verão, etc etc etc. pessoas que se agarraram ao passado, na tentativa de permanecerem eternamente naquele ano em que se sentiam bem, de alguma forma. isto dá um post igualmente enorme. um dia destes...

eu não sou esse tipo de pessoa que se queixa da "vida adulta" dos outros. os filhos nascem, as pessoas envelhecem, that's life. as fraldas um dia páram e os amigos servem para perceber que uma fralda por mudar tem o poder que tem e vale o que vale. é uma merda mas alguém tem de fazer o dirty work, e simplesmente não somos nós, os outros que não têm filhos, que o vamos fazer. as pessoas inexplicavelmente recuperam-se depois das fraldas. há vida depois das fraldas.
o que não se recupera é a ausência e o espaço que se cria sem que ninguém faça algo por mudar. o que não se recupera são as diferenças e as posturas tão díspares, agressivamente opostas que a vida, em algum momento, operou na vida de cada um. o que não se recupera é o mal estar entre pessoas que tinham tanto em comum na tenra idade de todos sermos iguais e fixes e deprimidos, e de repente estamos a comparar carros e a tentar perceber quem é que tem o emprego mais fixe, a vida mais cool e os gadgets i tech da moda.

o que eu quero dizer é que gostava de voltar atrás algum tempo na minha vida e dizer-me a mim própria para não depositar tanta esperança e confiança num futuro brilhante em que todos nos íamos "dar bem" em todos os sentidos. dir-me-ía sobretudo que iria mudar a minha perspectiva e tudo aquilo em que eu acreditava e todas as pessoas por quem colocava as mãos no fogo e todas as certezas que tinha podiam não passar de um castelo de cartas demasiado frágil porque afinal, ainda estamos todos em crescimento.
e sim, as pessoas mudam. e sim, as pessoas também não mudam.
a inveja corrói. os objectivos de vida aka filosofias de vida aka formas de estar na vida aka horizontes são todos eles tão diferentes que as pessoas acabam por se perder.

eu sei que gosto das minhas pantufas e hoje é sábado, a hora muda e vou festejar em casa. ainda gosto do meu copo de vinho tinto. bebo com moderação. gosto das mesmas músicas estranhas mas há muito tempo que não oiço aquilo que ouvia há 5 anos atrás, o que não faz de mim uma revivalista de quem parou musicalmente numa era. isso para mim é importante. não sei a marca do carro da grande maioria dos meus melhores amigos. não sei quanto ganham e não quero saber. ainda não tenho bebés mas não tenho nada contra quem os tem. chateia-me que as pessoas se movam por círculos sociais, escolham amigos nesses círculos e engulam os velhos clichés de merda que existem não só em portugal mas um pouco mais em portugal, do tipo:
se és artista és meu amigo, senão, não és.
se és caixa de supermercado deves ser burro e ter apenas o nono ano.
se és professor és comunista.
se és do benfica és trolha.
se és de direita, és amigo do salazar.
se não tens namorado és lésbica.
se não tens namorada és paneleiro.
se andas a comer muitas gajas és o maior.
se andas a comer muitos gajos és a maior.
se não andas a comer ninguém és um totó.
...
e outras tantas coisas que separam as pessoas que fazem questão em separar-se do resto. dos outros. os outros. conheço tantas gajas que escolhem escolhem escolhem entre os homens em camadas e perfis que se perdem no caminho e acabam sozinhas. e depois queixam-se que estão sozinhas. que ninguém as entende. mas esqueceram-se de dizer (no meio das queixas e das lágrimas de solidão) que nunca andariam com um gajo que:
é feio
é gordo
não ouve/lê/conhece aquilo que elas gostam
não sabe quem é truffaut
ouve o dino meira (ok, esta é duvidosa)
tem um penteado esquisito/tem um penteado normal
tem um emprego merdoso
ganha mal
ganha MUITO bem e logo, é um burguês fascizóide
usa t-shirts com bonecos (esta disseram-me mesmo)
é do psd/ps/be/pcp/pnr.......
....
são tantas tantas... por zeus se são! e se há gajos esquisitos também há sim senhor! gajos que têm muita mania.

e são todas estas pequeninas coisas que me colocam numa fronteira surreal entre os solteiros deprimidos desempregados excêntricos anormais e os casados carregados de fraldas invejosos pseudo artistas super hiper mega realizados nas suas carreiras tão artísticas e tão "bem". I just don't fit anywhere. no fundo, as coisas não são assim tão definidas pela idade ou fases de vida ou trabalho ou sucesso ou estado civil: é mesmo de falta de carácter e muitas vezes, de educação e formação pessoal. valores.
e começo a fazer uma coisa que detesto que é começar a odiar pessoas "novas" e a perder toda a minha paciência para estar com elas e a ouvi-las e aos seus dramas pessoais. acima de tudo, porque estou um pouco traumatizada com as pessoas "velhas" que eu jurava (ah se jurava!) que eram para toda a vida.




fica ainda este artigo muito interessante sobre tudo isto e mais algumas considerações.

28.10.10

é de mim ou...


... este filme é mesmo uma merda?

ok, não será tão mau como o pior filme da minha vida (há muitos, sim), mas tendo atingido um certo patamar cinéfilo (whatever) isto é mesmo uma merda. e merda porque é presunçoso, é prometedor e não vale um caracol.

Talvez numa tarde de domingo em que se está de ressaca...

facebook

O facebook está para os blogs como as cadeias de hipermercados estão para as mercearias de bairro.

os blogs que visitava - e ainda visito - parecem casas fantasma, abandonados, vazios, com o prazo de validade expirado. abre-se um e data de 2008. abre-se outro e o último post marca a despedida até outras paragens. de repente todos aqueles que amavam a escrita deixaram de "ter tempo". aqueles que nunca "tinham tempo" morreram de vez. há pessoas que deixaram de existir na minha vida pois só existiam através dos blogs. na verdade, não tenho saudades dessas pessoas.

eu fechei um dos blogs sem aviso prévio - diz que é só  para leitores convidados (MENTIRA! aquilo fechou de vez, mas dito que é para um grupo restrito parece mais "fino") e o outro deixei-o às moscas. comigo, para este, trouxe apenas algumas almas (3?) e chega.

este blog não é uma mercearia de bairro. este blog é uma trufa branca.

27.10.10

before sunset




há histórias que levam anos a serem "cozinhadas". histórias de amor com finais felizes, com os "meios" um bocado fodidos. pessoas que se separam, vivem as suas vidas separadas e um dia encontram-se e vivem felizes para sempre. há histórias assim. eu sei porque já vivi o suficiente para poder contar algumas, porque as vi acontecer. não a mim. estas histórias em banho-maria não acontecem comigo. o meu conceito de romantismo ultrapassa toda e qualquer hipótese de pensar que alguém do meu passado possa estar remotamente ligado a uma ideia de futuro. talvez porque sofro de crises graves de ansiedade e sou muito precisa no que diz respeito a visões do futuro.
(é aqui que o meu namorado respira de alívio)
(ou não)
(é aqui que ele pensa que está fodido)
(ou não)
mas principalmente porque não acredito que possa haver algo parecido com Amor que perdure numa infinidade de tempo e que seja resgatado, como uma mensagem que ficou perdida no espaço virtual. acho sim que esses retornos cheiram (tresandam) a desespero. não como neste filme, mas nas histórias de vida reais. pensem bem: quantas pessoas conhecem que reataram com sucesso? quantas pessoas voltaram atrás depois de bater a porta, apenas por pena de si próprias? apenas porque se sentiam sozinhas e pensaram "eh, talvez isto dê agora!"

talvez seja eu que estou demasiado arrogante no meu conceito de amor, que é para mim, sempre, um amor novo, não um amor reciclado. talvez os nãos e as portas batidas tenham para mim um peso maior. talvez eu não perceba nada disto. ou talvez as pessoas sejam todas elas lugares muito muito estranhos.

love songs on the radio




parece que foi há um milhão de anos que ouvi isto pela primeira vez