6.9.11

songs of love and hate VII




esta é uma das mais belas de sempre, existe porque sim, porque é daquelas músicas que parece que sempre existiram numa fracção de tempo infinitesimal e que simplesmente são, por inteiro, existem dentro de nós. faz transbordar algo cá dentro. mesmo que não haja nada de especial por transbordar.

a mim lembra-me sobretudo Coimbra. a minha amada Coimbra dos sábados de manhã, quando pouca gente suspeitava que eu me levantava cedo para ir tomar o pequeno-almoço à rua, ao gira, ou à rua do brasil e voltava pra casa, para dormir, mas o croissant não podia falhar. num tempo em que não sabia o que era ter um carro, e não me fazia falta, porque era aquela miúda que ou andava a pé, ou à boleia ou de autocarro. fazíamos um truque engraçado naquela altura, que consistia em aldrabar os senhores dos SMTUC através de cartolina amarela, fita cola e o que sobrava de um bilhete. depois era somente um truque de mãos. lembra-me o meu quarto, a minha aparelhagem, as minhas cassettes de jorge palma, a chuva lá fora. lembra-me a falta de camisas brancas na altura da latada, e o cheiro da lixívia a branquear os colarinhos e os punhos sujos da noite anterior. lembra-me as monumentais, as cantinas amarelas, o desfile da latada, o parque botânico, o jardim da sereia, o penedo da saudade à noite, o outono, o inverno. é uma música de inverno. de chuva sem vento no vidro da janela.

esta música lembra-me sobretudo um tempo em que acreditava num mundo tão cor-de-rosa, no amor para sempre, nos ideais porque sim, no poder da amizade verdadeira, na poesia que se lia, nas lágrimas que chorei ao ouvir isto tantas e tantas vezes.

esta música lembra-me que o tempo passa, mas nem tudo passa com ele, pois ainda acredito no amor para sempre, na amizade verdadeira e nos ideais porque sim. e a poesia, claro. claro que sim.