19.7.10

Reflexões de uma portuguesa no meio do Mundo

acabei de ler isto no 31 da Armada e não posso deixar de concordar com algo do que lá está escrito e discordar (bastante) ao mesmo tempo. aliás, concordar só mesmo na parte em que o "falar mal de Portugal" tornou-se um hábito.



Reflexões de um Português em Madrid


As diferenças entre portugueses e espanhóis são inúmeras e eu sempre me orgulho e orgulharei de ser português. Mas há uma característica que tempos como povo que nos mata, a falta de auto-estima que tanto abunda na vizinha Espanha. Hoje, ao entrar num táxi saído do aeroporto de Barajas (Madrid) digo ao taxista, numa de português simpático a tentar agradar, que o tempo está quente e que gosto muito de Madrid, mas é pena ser uma cidade com um clima terrivelmente quente no verão e frio no inverno. E aí o taxista deu-me uma resposta que nenhum português daria, “Sabe”, disse taxista, “Madrid é uma cidade perfeita e mesmo o clima é quase-perfeito!! Com mais dez graus no Inverno e menos dez graus no Verão seria mesmo o paraíso!” Resposta extraordinária, pois são exactamente esses dez graus a mais ou a menos, que fazem com que a cidade seja insuportável do ponto de vista do clima. E que às oito da noite não me deixavam, nem a mim nem a ele, conseguir respirar num táxi sem ar-condicionado, a entrar numa cidade deserta pelo calor. Se fosse um português aposto que teria dito, “Sabe, Isto neste país já nem o clima se aproveita!”. A auto-confiança ou auto-estima, como lhe queiramos chamar, constrói-se desde o berço e sobretudo através de um sistema escolar que nos faça acreditar que somos capazes. Os EUA, onde estudei alguns anos, são especialistas em criar esse ambiente fomentando uma auto-confiança no indivíduo extraordinária, através de mensagens positivas. Parece que foi ontem e já lá vão 10 anos, que aterrei em Boston e fui à minha primeira aula na universidade. Num inglês medonho, faço um comentário tonto no meio de 80 pessoas e sinto-me mal, mesmo incomodado. Penso, nunca mais abro a boca. No fim da aula o professor aproxima-se e diz-me, “ Carlos - Great Job! Keep it up”. Fiquei alucinado! E quase acreditei que o meu comentário não tinha sido assim tão mau, o que me fez no dia seguinte voltar a participar sem aquele medo típico, que em Portugal temos, de dizer asneiras em frente ao professor. Se ele me tivesse dito, “Carlos – para próxima pensa bem no que dizes e talvez valha pena teres aulas de inglês”, tal teria sido a morte do artista. Aquele dia marcava a minha entrada num sistema em que os alunos são motivados pela positiva o que os faz querer ir mais longe. A função do professor é mais do que ensinar, é ajudar o aluno a acreditar que pode conseguir. Acreditar que é capaz. Obviamente e como diz um amigo americano, não há sistemas perfeitos e o positivismo americano em excesso cria muitas vezes as suas tragédias, e dá como exemplo a Sarah Palin que acredita tanto nela que não tem consciência dos seus limites, que são muitos. Por isso, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Mas um pouco mais de auto-estima, como povo, não nos faria nada mal !!


mais aqui (comentários etc e tal).


concordo em tudo o que disse o comentador António Vieira e devo acrescentar mais umas quantas ideias. é certo que os espanhóis têm uma auto-estima colectiva e um brio na sua nacionalidade que valha-nos Deus!, e é certo que ingressar no mercado de trabalho espanhol (sendo português) é, também por isso, muito complicado. adiante. se os portugueses deveriam ter essa tal "auto-estima colectiva" mais elevada? caso tivessem razões para isso, talvez. o facto é que eu não acho que o problema esteja na auto-estima. os portugueses têm uma razoável auto-estima (basta ver como qualquer tuga é feliz com uma sandes de coirato e uma mine na mão - se adicionarem o apedrejamento ao Carlos Queirós, então a coisa vai que é um mimo!) e penso que os portugueses são e estão bastante felizes e optimistas com o país ou o Governo que nos governa. caso contrário, já teriam tomado algum tipo de atitude mais agressiva, mais não fosse, votar noutro gajo que não o Sócrates. e sim, somos um povo com um sentido de humor bastante mais refinado e diversificado do que os espanhóis - temos humor para todos os gostos. desde os homens da luta, aos gato fedorento, do herman josé ao nuno markl, até aos malucos do riso e o guilherme leite ou a maria vieira, temos mais que vontade de rir e fazer rir.

acho que o que falta em portugal não é elevar a moral e a auto-estima dos meninos nos bancos da escola. qualquer dia, falta é os meninos levarem uma carga de pancada do professor à moda antiga, com reguada, cinto ou mesmo à "b'fatada"; como é que se pode pedir a um professor que instigue a auto-estima dos meninos quando os meninos gostam de fazer ameaças ao professor?

acho que o que falta em portugal é mais reivindicação.

acho que o que falta em portugal é real informação e não fecharem jornais e calarem os jornalistas que dizem verdades não-censuradas.

acho que o que falta em portugal é justiça, mais e melhor justiça, saúde e educação.

acho que o que falta em portugal é passarmos das palavras aos actos.

não é a falta de orgulho nacional que nos trava. o que falta aos portugueses não é a merdice desmesurada  que vai na cabeça dos espanhóis, que parecem os novos-ricos falidos e hipotecados da europa.
o que falta aos portugueses é agruparem-se e serem mais unidos, haver menos inveja e menos mediocridade. é haver mais associação, mais organização, um real cultivo pela qualidade e por querer ser melhor, e não ser invejoso ou hipócrita.

porque a realidade é que o copo está meio cheio, mas são apenas alguns a beber sempre o que lá está.


3 comentários:

Spider Pig disse...

Um pouco menos de preguiça e calanzice também ajudava. Podia ser que por aí começasse o que poderia ser o ponto de viragem. Mas a malta é calona e por isso deixa-se ficar a ver a novela e o futebol e quer lá saber da escola e do resto. Somos remediados porque queremos ou porque nos obrigam a querer: os governantes tiram, o povo ladra, mas baixa as orelhas e aceita. E volta tudo ao ínicio, até ao dia em que não seremos mais que uma cambada de burros ignorantes que não sabem ler nem escrever nem pensar nem agir por nós próprios.

Chamem-me pessimista, mas é assim que vejo as coisas...

Anónimo disse...

Os portugueses são de extremos e também não creio que se um estrangeiro criticasse Lisboa que fossemos concordar com ele, o que eu vejo é que os portugueses uns com os outros são pessimistas e têm de facto alguma falta de auto estima, mas em conversas com estrangeiros defendemos sempre o que é nosso, é mais essa ideia que eu tenho.

Os portugueses andam muito ao sabor do vento, um dia somos os maiores do mundo e não há ninguém melhor do que nós, criam-se mitos como, temos os melhores pilotos do mundo, temos as melhores forças especiais do mundo, temos a melhor policia do mundo, temos os melhores jogadores do mundo, temos o melhor clima do mundo e muitos mais que eu podia aqui enumerar. Só que esse vento leva-nos aos dois extremos, um dia os melhores, outro dia os piores, acho que tem tudo a ver com o momento da nossa Vida pessoal, se as coisas correm bem é tudo perfeito e Portugal é o melhor que há, se não corre bem, tudo tem defeitos, Portugal é dos piores sitios.

Resumindo não se pode levar esta "mentalidade" a sério, porque muda a toda a hora, a nossa normalidade é ser inconstante e acho que nunca vai mudar, olha é como no futebol, um adepto a ver a sua equipa jogar, durante o mesmo jogo a sua equipa tem momentos em que é sem dúvida fantástica e tem outros em que não vale nada, ninguém presta, precisa é duma limpeza de balneário etc... Nos pequenos pormenores vemos o quadro maior.

Eu não acho que seja por esse aspecto da mentalidade que podemos ou não melhorar como povo, aliás eu não gosto muito de indentidades colectivas, acabo muitas vezes por cair na generalização também, mas na realidade o que é isso dos portugueses? O único traço verdadeiramente comum é a nacionalidade porque depois cada um de nós é diferente.

Temos sempre semelhanças e diferenças com cada pessoa com que nos cruzamos.

Agora outra coisa com que vou discordar, eu acho que se deviam fechar muitos jornais e calar muitos jornalistas LOL sim porque a maior parte dos media e jornalistas já não são independentes, ou estão subjugados ao poder politico ou ao poder e interesses económicos do grupo que detém o orgão de comunicação onde trabalham.

Se repararem as noticias são feitas para "lavar mentes" para massificar e acima de tudo para incutir o medo, as pessoas vivem com medo de tudo, vão acreditando cada vez mais nas muitas mentiras que lhes são ditas vez após vez, as mentes já de si preguiçosas vão sendo cada vez mais moldadas por um poder que já não é independente. O pior de tudo é que eu vejo muita gente a aceitar tudo o que vê nas noticias como um dogma e quando tentar rebater algo, a resposta que tenho ouvido muitas vezes é: Se disseram na TV é porque é verdade, não iam dizer nas noticias se não fosse verdade etc...

Assim sendo um passo importante para uma renovação de mentalidade seria a libertação e independência em relação às noticias com que nos bombardeiam todos os dias. Era bom que as pessoas tirassem umas férias das noticias e da própria TV, já viram o tempo de Vida que desperdiçamos sentados em frente da TV?

Se somassem as horas iam contar dias, semanas, meses e perceber o quanto tempo de Vida desperdiçaram.

Agora só para terminar( faltam apenas 500 palavras ) LOL

Kidding já acabei...

Será?

LOL

A.na disse...

O Jorge é que sabe!

Enquanto continuarmos à espera...