11.11.10

o senhor do adeus



Tudo isto é solidão? (perguntou-lhe a jornalista Ana Sofia Fonseca)

"Essa senhora é uma malvada, que me persegue por entre as paredes vazias da casa. Para lhe escapar, venho para aqui. Acenar é a minha forma de comunicar, de sentir gente."






vivi e trabalhei durante um ano em oeiras e ía muitas vezes a lisboa.
foi quando "conheci" o senhor do adeus, no saldanha.

havia qualquer coisa naquele acenar, completamente fora de tudo o que é lisboa, fora de tudo aquilo em que lisboa se está a tornar. igual a tudo o resto, igual a uma outra grande cidade qualquer, a perder a sua identidade, a sua autenticidade dentro daquilo que somos enquanto povo acolhedor.
o "senhor do adeus" era uma espécie de alma da cidade. algo que está a ficar "fora de moda" porque já ninguém se cumprimenta, já ninguém quer saber de ninguém.

a primeira vez que vi o "senhor do adeus" no saldanha estava triste, muito triste, ía a conduzir cidade fora, a fumar um cigarro na minha rotina de todos os tristes e amargurados dias daquele ano, talvez até estivesse mesmo a chorar e achei que àquela hora da noite, alguém a fazer-me adeus e a sorrir só podia querer dizer que as coisas iam correr bem, que havia esperança, que não valia a pena estar triste. aquelas coisas que se sentem num olhar, numa fracção de segundo, que passam num instante.

e sorri ao ver a figura que me acenava, que ficara para trás.
parecia coisa de filme, uma figura de outra dimensão, colocada com mestria na minha jornada e por via do destino, para me indicar a saída.

ele não sabe, porque nunca falámos e nunca lhe pude dizer, mas ele tinha razão.
as coisas melhoraram.

ainda hoje me lembro daquela noite, daquele primeiro momento.

o meu muito obrigada, "senhor do adeus". descanse em paz.



aqui, a homenagem.

1 comentário:

Spider Pig disse...

Que descanse em paz e continue a acenar-nos lá de cima...