15.11.10







«O ser humano é tão reservado, e essa intimidade é o mais espantoso que há em nós, ainda mais espantoso do que a racionalidade. Mas não nos é possível entrar simplesmente na caverna e dar uma espreitadela, sem mais nem menos. A maior parte das coisas que julgamos saber sobre a nossa mente não são mais do que pseudoconhecimento. É aterrador o modo como fingimos; somos especialistas em exagerar a importância do nosso valor. Segundo Estesícoro, os heróis de Tróia lutaram não por Helena, mas por um fantasma de Helena. Guerras vãs por ilusórios bens. Espero que no teu livro te detenhas o suficiente a refletir sobre a vaidade humana. As pessoas mentem tanto, até nós, os velhos. Mas, em certo sentido, isso não é importante, se for feito com arte, porque na arte há uma outra espécie de verdade. Proust é a nossa autoridade em matéria de aristocratas franceses. Quem é que quer saber como eles eram de facto? Que significado tem isso, de resto?»

O Mar, o Mar, de Iris Murdoch, tradução de José Miguel Silva, Relógio d'Água, Maio 2005, p. 185




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